• Alfenas, 01/09/2025
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Marco Carvalho

Tarifaço de Trump é um susto, mas pode ser o empurrão que faltava para o Brasil se abrir para o mundo.


Tarifaço de Trump é um susto, mas pode ser o empurrão que faltava para o Brasil se abrir para o mundo.

A tarifa de 50% que Donald Trump pretende impor a produtos brasileiros a partir de 1º de agosto é um golpe incômodo, mas limitado. Ainda assim, talvez seja o alerta mais contundente em muito tempo de que nossa economia precisa, urgentemente, parar de confiar em poucos parceiros e poucos produtos para sobreviver num mundo cada vez mais disputado.

Setores como café, suco de laranja, carne bovina e siderurgia sentirão o baque. Mas, na prática, os especialistas apontam que grande parte dessas mercadorias pode ser redirecionada para outros mercados. O Vietnã surge como porta de entrada para a Ásia, o México amplia compras em meio a restrições próprias, e a África desponta como continente-chave para a próxima década. O mundo está aberto, o Brasil é que segue fechado.

E aqui está a oportunidade estrutural que se esconde nessa crise pontual: entender, de uma vez por todas, que não basta desviar exportações para outro cliente quando um mercado fecha. É hora de transformar essa dependência em força de negociação. Para isso, precisamos reduzir o Custo Brasil, destravar a logística, simplificar a carga tributária e abrir espaço para mais acordos comerciais — coisa que engavetamos desde que o Mercosul foi criado com promessas que nunca se concretizaram.

O tarifaço expõe uma verdade desconfortável: mesmo como grande exportador de commodities, o Brasil ainda é vulnerável quando depende de um parceiro tão concentrado. Enquanto outros emergentes diversificaram acordos e ampliaram o valor agregado de seus produtos, seguimos ancorados em matérias-primas, sem subir na escada tecnológica. O resultado? Qualquer canetada em Washington pode bagunçar a pauta de exportações, gerar custos adicionais e forçar soluções improvisadas.

O lado positivo é que alternativas existem e estão na mesa agora. O Vietnã, por exemplo, pode virar um hub para atingir mercados como China, Japão, Coreia do Sul e Austrália, aproveitando acordos já em vigor. A África precisa ser olhada com estratégia de longo prazo: linhas de crédito, incentivos à presença de empresas brasileiras e diplomacia econômica focada em abrir portas de forma sustentável. O México, por sua vez, reforça a integração regional que o Mercosul deveria ter aprofundado há 20 anos.

Mas nada disso funciona sem atacar o essencial:

infraestrutura, eficiência e competitividade interna. Não adianta tentar abrir mercados se o produto brasileiro continua caro para embarcar, travado por portos defasados, rodovias em ruínas e burocracia sufocante. O fortalecimento da indústria local, absorvendo insumos que antes iam para os EUA, pode ser o primeiro passo para diversificar nossa pauta com produtos de maior valor agregado.

Em outras palavras, o tarifaço de Trump não vai quebrar o Brasil — mas pode, sim, quebrar a nossa inércia. O susto precisa virar estratégia. É hora de abrir o comércio, modernizar as bases da economia e finalmente abandonar o medo de competir no mercado global. Porque se não fizermos isso agora, não faltarão “tarifaços” no futuro para nos lembrar, dolorosamente, do que deixamos de fazer. 


Até a próxima, com esperança e a certeza de que ainda há tempo de fazer diferente. O Brasil precisa de nós, de nossas ações e de nossa coragem para reescrever sua história.


Sobre o autor

 

Marco Carvalho é advogado e historiador, com especializações em Gestão Pública, Direito Administrativo, Direito Sanitário e Auditoria do Setor Público.

Ao longo da sua trajetória, busca unir conhecimentos técnicos e uma visão humanizada, para compreender melhor os desafios e potencialidades que envolvem nossas histórias e nossas comunidades. Seu compromisso é compartilhar análises honestas e fundamentadas, sempre com respeito à complexidade do mundo e às pessoas que nele vivem.



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